segunda-feira, 12 de novembro de 2012


Hoteis em favelas pacificadas atraem turistas curiosos

08 de novembro de 2012  07h40
Tavares Bastos foi uma das primeiras favelas pacificadas da cidade. Ao seu lado, está The Maze Inn, que abriga turistas, principalmente estrangeiros, .... Foto: Divulgação
Tavares Bastos foi uma das primeiras favelas pacificadas da cidade. Ao seu lado, está The Maze Inn, que abriga turistas, principalmente estrangeiros, desde o Natal de 2005
Foto: Divulgação
A pacificação de favelas no Rio de Janeiro ajudou a abrir portas para os empreendedores. Literalmente. Vários moradores locais decidiram transformar suas casas em hotéis e albergues para abrigar turistas curiosos.

Tavares Bastos foi uma das primeiras favelas pacificadas da cidade, devido à presença da sede do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Ao seu lado, está The Maze Inn, local onde Bob Nadkarni, ex-correspondente da BBC de Londres, mora há 33 anos. Desde o natal de 2005, Bob abriga em sua casa turistas, principalmente estrangeiros. Ele estima que apenas 10% dos clientes sejam brasileiros. 

Levando em conta que seu quarto de visitas estava sempre cheio, Bob viu a possibilidade de ajudar nas finanças da família com a hospedagem. "Eu sabia que ia dar certo, porque tem muita gente que quer ficar aqui. É claro que não são todas as pessoas, mas tem um tipo de gente - pessoas que estão procurando alguma coisa diferente, que têm senso de aventura, ou que querem ver de perto a vida na favela, de que se fala tanto", conta. Ela ainda menciona a vista como atrativo ¿ de lá, é possível ver a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar. 

A pousada tem hoje sete quartos disponíveis para hóspedes, todos com camas de casal e banheiro, exceto o "catacumbas", um dormitório coletivo com nove camas. Na alta temporada, que vai de dezembro até o fim do Carnaval, os quartos costumam ficar cheios, com preços de R$ 60 (dormitório), R$ 150 (solteiro ou standard) e R$ 180 (com varanda). Na baixa temporada, os preços caem para R$ 50, R$ 120 e R$ 150, assim como o público - segundo Bob, há dias em que não há hóspedes. As diárias dobram durante o Ano Novo e Carnaval. 

Ele conta que a única publicidade do The Maze Inn é o boca a boca. "Não é uma coisa que eu corro muito atrás. Nós não procuramos um público geral. Eu tenho uma clientela curiosa, é muito raro ter alguém chato. São pesquisadores, músicos, poetas, cineastas", diz. 

Além do hotel, Bob promove eventos de musica, que ocorrem em três sextas-feiras do mês, e que superam o faturamento da hospedagem. As noites de jazz, que acontecem quinzenalmente, atraem entre 500 e 600 pessoas, com entrada de R$ 40. "Eu convenço mais de mil pessoas a subir o morro. O lugar é maravilhoso e está melhorando cada vez mais", afirma. 

Mangueira
Desde novembro de 2010, é possível se hospedar na favela do Chapéu Mangueira, no Leme, zona sul do Rio de Janeiro, no albergue Favela Inn. O espaço surgiu com a ideia de atender aos estrangeiros que tinham curiosidade sobre o lugar. "Mesmo antes da pacificação, eles já vinham fazer caminhadas. Mas, depois, eles ficaram mais curiosos. Sai na mídia que é pacificada, eles querem saber o que mudou, como funciona", explica Cristiane de Oliveira, administradora do albergue. 

A casa possuía uma laje, que já havia servido de residência para aluguel, que foi convertida no Favela Inn pelos proprietários Valter Machado e Vitor Hugo Medina. São três quartos com três beliches, com diárias de R$ 60, na alta temporada, e de R$ 45 na baixa. Há ainda o pacote de Natal e Ano Novo, que inclui também a véspera e a ceia, por R$ 200. 

O público é majoritariamente jovem, composto igualmente por brasileiros e estrangeiros. Na baixa temporada, o albergue costuma abrigar estudantes em intercâmbio, que ficam entre três e seis meses no local. 

Cristiane conta que o albergue foi se adaptando às sugestões dos próprios hóspedes. Uma delas foi a troca da telha, que era de amianto, proibida em muitos países europeus, e passou a ser ecológica. A sustentabilidade é marca do albergue, incentivada pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Os sofás e pufes, por exemplo, foram feitos a partir de retalhos e há reciclagem de lixo. 

Cristiane cita que a formalização do albergue, em novembro de 2011, ajudou a transmitir segurança aos hóspedes e fez com que o negócio crescesse. Hoje, o faturamento médio mensal é de R$ 3,5 mil. 

Como não há espaço para crescimento no local, Cristiane afirma que a ideia é que no futuro seja possível criar uma franquia do Favela Inn em outras comunidades e mesmo "no asfalto". Ela espera ainda que a Copa das Confederações, a Copa do Mundo e as Olimpíadas tragam a quantidade de hóspedes de alta temporada em um período não tão movimentado. Segundo ela, no entanto, o negócio vai muito além desse período. "Hoje, a favela é importante. E a gente quer mostrar que não é modinha."
Fonte: Terra

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